sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Lamentação de Érica (Amiga do colégio)

Atravesso todas as madrugadas,
a solidão da cidade,da alma.Da minha alma.
Busco algo que não sei o que é.
Além.Muito além.
Olho para cima e gemem dez mil nuvens.
Choro até secarem todas as minhas lágrimas
e meus olhos verterem sangue.
Onde estou?
Onde estou que não sei para aonde quero ir?
Não sonho.
Sou feita de uma esperança esquecida,perdida.
A minha última ilusão assassinei à muito tempo atrás.
Tenho medo dos filhos que não terei.
E quebro um relógio,esperando sentada,
a felicidade impossível.
As minhas mãos despetalam uma rosa
e choro angustiada pelo céu de pétalas,
pois não conheci o seu segredo máximo.
Não acho a saída do labirinto,
incertezas do espírito.
Nas minhas mãos carrego o sentido da vida,
mas não consigo enxergá-lo.
Sou uma tempestade e estou trovejando,
arrastando tudo em furioso turbilhão.
Destruição.
Caio em infinitas gotas,
molhando,
buscando
um pouco de terra
onde eu possa brotar.
O que eu amo não existe,
o que eu amo é um anjo triste
que flutua nas nuvens dos meus olhos!
Meu amor!
Pensei que fosse poesia,
mas é apenas fantasia!
Mesmo assim,estou afogada na sua imagem.
Oh,meu amor destruidor de negras madrugadas!
Sou neve e você é sol!
Quando os seus olhos,
o gelo do meu coração se transforma
em fogo líqüido em minhas veias.
Mas tenho medo de tocá-lo!
Tenho medo de me ferir.
Eu sou feita de vento e você é vidro.
Cortante.
Acariciá-lo como sem me ferir e sem o quebrar?
...
Queria que o céu fosse o meu noivo,
mas ele já está casado com as estrelas.
Junto os infinitos pedaços do meu coração e sigo adiante,
abraçada à uma flor que não tem nome.
Nasci ontem,mas meus olhos já viram tantas coisas
e minha alma já provou muitas dores.
Quero descansar.
Sentar à sombra de uma grande árvore,
longe de tudo,abraçada ao meu anjo.
E finalmente sentir a felicidade,
a Verdade da Vida,
dentro do meu ser.
Radiante.
Resplandescente.

Sorocaba,21-07-1995,03:00

Foto de Mulher

"As formas vão para o infinito"...
Algum poeta já cantou este verso?
Lorca?Vinícius?
Não sei. Não tenho certeza.
Não importa muito!
Quando admiro esta foto
linda
seminua
quase me afogo.
Quase sou deflorado(!)
justamente por este verso:
"As (tuas) formas vão para o infinito"...

A única certeza que tenho é:
A Morte é horizontalmente delicada e bela.

Sorocaba,19-12-1996,02:00hs

Palavras

As palavras navegam sem direção,
chocam-se,
rasgam-se,
beijam-se
num caldeirão lorquiano de versos.
Intangibilidade dos múltiplos sentidos.

Não sou eu,
fraco poeta,
que rasgo as palavras.

São as palavras,
seres vivos,
que me rasgam,
sem poesia alguma.

Os homens criaram as palavras
ou
as palavras criaram o homem?

Riem-se dos homens esses pássaros
feitos de vida,
feitos da mais pura liberdade.

Apenas o homem é mortal.
Morre o poeta
fica o poema.

Até a Morte tem medo das palavras!

Os homens,filho de Deus.
As palavras,filhas de Deus.
Os homens,filhos da Palavra.

Palavra.
No princípio era o Verbo
e o Verbo se fez carne...

Sorocaba,02-02-1996,04:00hs

Passado

Que eu nunca esqueça do teu amor,
mas que ele seja lago sereno e profundo,
adormecido
no fundo do coração.

Que seja como lágrimas
de um sonho quase esquecido
que umedecem os olhos
nas horas perdidas da madrugada.

Que eu encontre conforto na tua lembrança,
como brisa passageira
no anoitecer de minhas mãos
e promessa de amanhecer.

Que eu nunca me esqueça do teu amor,
mas que ele seja leve sorriso triste
aurora
suave recordação.

Sorocaba,03-06-1997

Centro de Sorocaba

O ar
é de concreto armado
geométricamente
em retângulos triângulos
nascidos do chão
que se erguem até.

Às vezes o céu é azul
profundo.
Às vezes é cinza
chumbo.
Mas quando chove é lindo
e imundo.

A praça no Centro
é a glorificação do.
Vazio.
Que se estende
do centro da praça
até
o verde das árvores
os edifícios cinzas
o branco restaurado da Catedral
o azul do céu.

Pessoas apressadas.
Carros congestionados.
Pássaros ao entardecer.

Isto é o mais lindo:
Pássaros ao entardecer.

Sorocaba,29-06-1998,01:00hs

Aurora Dominical

Este mundo que tão belamente amanhece.
Tão plácido.
Suave.
Já não é noite,
e nem é dia ainda.
Momento de transição!
Mágico!
Lento despertar das coisas!
Comovem-me os postes ainda acesos,
como últimas estrelas;
os telhados das casas,
barro cozido cobrindo todos nós,
vermelho nascendo vagarosamente.
Há os pássaros
despertando brisas frias e céu.
Este céu desta manhã de agosto,domingo,
tão homogêneo em seus vários tons de cinza.
Há os galos
que viajam pelo ar,
liqüidos,
contínuos,
vindos de distâncias inimagináveis.
E o que há de mais delicado
são os galhos das árvores,
com verdes respirantes.
E eu,poeta menor,
abraçado em minha fiel solidão,
faço parte disso tudo.
Tão certo,
Tão pleno
quanto
este mundo que tão belamenta amanhece.
Tão plácido.
E suave.

Sorocaba,09-08-1998,06:30hs,ao som dos pássaros.

Lamento de Lorca

Cantarei para o mundo
a sua verdadeira face.

E então,
quando todos me perseguirem,
vou me esconder
na beira do mais tranqüilo
lago.

E chorando,
cortarei os meus pulsos,
e a terra beberá,
assombrada,
o meu sangue.

E somente a terra lembrará,
comovida,
o meu nome.

Sorocaba,09-08-1998,07:30hs

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

O Amor no peito do poeta

O amor é um cavalo selvagem
que atravessa o deserto do meu peito.
Por onde ele passa
nada nunca mais é o mesmo.
De suas pegadas
jorram fontes
de pura água fria cristalina.
Nascem florestas
de verdes imensos extensos intensos.
Explode a vida
incontrolável
selvagem.
É um arco-íris,sorriso no meu rosto.
O cavalo galopa veloz velozmente
poderoso.
Luz líquida nos meus olhos.
Cruz que carrego em todos os momentos.
É madrugada.
É amanhecer.
É cidade.
São outros infinitos olhares
que passam e ficam nos meus olhos.
É um rio de mãos e bocas que
lavam o meu corpo.
É um fogo de almas
em que arde a minha alma.

Amor,cavalo selvagem.
Para sempre atravessando o meu peito.

Sorocaba,26-06-1997

Mensagem-visão recebida durante a madrugada,do músico Renato Russo.

Hoje está uma tarde tão bonita!
E as cores pintam tudo.
Pintam horizontes tão distantes
nos quais desejo me perder.
E o céu preenche tudo.
O mundo todo
todo azul
que enche os meus olhos
que penetra em mim.
Este céu tão lindo
tão azul
com tantos pássaros
de infinitos cantos.
Eu me sinto tão vivo!
Olho para as nuvens
e por elas me deixo levar.
Sinto em mim o vento,
vindo de tão longe,
não sei de onde.
Vento que venta
sem parar
e que passa sobre tudo.
Que passa como tudo!
Eu sei que não ficarei também.
Mas olho à minha volta e vejo.
Eu sinto!
Estou vivo!
E hoje está uma tarde tão bonita!

Sorocaba,(sem data),durante alguma madrugada do início de 1997

A criação da Mulher

Quando Deus criou a Mulher,
Ele estava bem humorado.(talvez até demais...)
Suave,fez-se poeta apaixonado.
( o primeiro Poeta,Pai e Essência de todos os poetas.)
Criou primeiro a Poesia e da harmonia dos versos,
com delicadas linhas,criou a Mulher,
em Luz,Geometria e Carne.
Deus compôs a Mulher-Música.
Ele a pintou,esculpiu e modelou com Seus próprios dedos.
Enquanto concluia Sua obra,
Deus se embriagava em beleza.
E mergulhava nos mais profundos delírios
(quem pode imaginar os delírios de Deus?)
ao moldar a alma da Mulher,
à Sua imagem e semelhança.
Quando concluiu Sua obra,
Deus chorava extasiado e enlouquecido
pelo fato de não ser humano.
Apenas para amar a Mulher
como um homem qualquer.

Dentro dos olhos da Mulher,
há uma lágrima de Deus.

Sorocaba,32-05-1995,02:55hs

Réquiem para os mortos da Bósnia-Herzegovinia

O vento canta
entre os corpos mortos
das cidades destruídas.
Arrasadas.

A imobilidade da morte,
sua cor necrocinza
secosangue
ferida.

Orai.
Olhai
os membros decepados
espalhados
pelas ruas esburacadas.
Panos esfarrapados
queimados.
A carne queimada em si.
Em Si Menor.
Com novas formas
disforme.

O vento lamenta lento
tenebrosamente sem sentido algum
a ausência das almas.
Os blocos das casas
espalhados aleatórios.

Nada é mais
nem nunca será
jamais.

E para sempre
o vento cantando
fúnebre.

Para sempre
Lux Aeterna.

Sorocaba,14-10-1996,00:30hs
György Ligeti,"Lux Aeterna"

Medo

Dos martírios eu sou o ardor
branco e puro como o norte,
que faz crescer o pavor
no coração do mais forte.

Das lágrimas eu sou a Dor
profunda e fria como o corte,
que faz nascer o negror
do desespero da Morte.

Sorocaba,25-11-1997,06:30hs

Arquitetura

Meu coração,
íntimo templo
de angústia,
sombria catedral
silenciosa.

Meu coração,
toda a dor
em ti contida
em torres góticas
infinitamente altas.

Meu coração.

Triste tema
deste poema.

Arquitetura pura
de
pura tristeza.

Sorocaba,10-05-1998,04:00hs
L.v.Beethoven,Sonata para piano Opus 106,terceiro movimento.

Sonetinho de São Carlos

Noite e luz,
bate o sino,
é um hino
que reluz!

De São Carlos
noite e ruas,
tristes luas
e seus galos...

Raia a aurora!
Acontece
tudo agora!

Cantem galos!
Amanhece
em São Carlos!


São Carlos,01-05-1995,02:00,Hotel Malibu

Cisne


Havia um cisne.
Seu peito era a porta de uma Catedral
de asas abertas.
Havia flores e água
um branco sombrio
de tetos altíssimos
sustentados por colunas de carne marmórea
e um altar de ossos empilhados.
Era o coração do cisne.

Havia um cisne.
Seu peito era a porta de uma Catedral
e suas pernas eram imaculadas
pernas de mulher.
Pernas nuas
brancas
lindas.
E havia lindas brancas penas cobrindo o chão.
Eram as penas do cisne.

Havia um cisne.
Seu peito era a porta de uma Catedral
quasinfinita.
Eu entrei por essa porta.
Dentro da Catedral
havia um cisne.


Sorocaba,09-06-1998,03:00hs

Desencontro

Em minha alma
em minhas mãos
quadros de gritos
gritos de nãos
que não sabem
o que buscam.

Eu busco as formas
mas encontro o vazio.
Eu sempre busco
mas nunca encontro.
Desencontro de tudo
em mim mesmo.

Sorocaba,30-12-1996,05:00hs

Verdade

O concreto erguido do chão.
Sólido.
Cinza.

Pura verdade
vertical.
Real.

Concreto:
nenhuma verdade é mais absoluta do que a tua.
E nem mais triste.

Sorocaba,01-02-1998,06:00
W.A.Mozart,Missas

Brincadeira Musical n*2

Não vendo
o que estou vendo
para ninguém.

Nas folhas
cantando o vento.
E muito além
as bolhas
contra o vento.

Catavento,catavento.
Catando o vento,
cantando invento.

E muito além
invento
o que não estou vendo
e não vendo
para ninguém
o vento
nas folhas
vivendo
cantando
invento
catando
o vento.

Catavento.

Sorocaba,06-09-1995,01:00
W.A.Mozart,"Concerto para trompa n*4,KV 495

Brincadeira Musical n*1

Vou colhendo estrelinhas pelos caminhos.
Pelos carinhos entrelinhas vivendo vou.
Mas,
ou correndo pelas estrelinhas,
ou escorrendo nas entrelinhas,
mais
vivendo eu vou
pelos caminhos dos seus carinhos.
Mais carinhos,mais carinhos
nos meus caminhos
querendo estou.

Sorocaba,06-09-1995,00:30
W.A.Mozart,"Ein musikalischer Spass",KV 522

Estrela cadente

No céu
um risco
arisco
ardente
estrela cadente
demente
arisco
um risco
no céu.

Sorocaba,23-10-1995,05:00hs

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Vento

Afrodisíaca manhã de primavera.
Mulher,passeavas teus sonhos pela rua.
Um risonho vento em vão tentou
levantar a tua saia,
e eu vi,moreno,um pedaço do céu
das tuas pernas.
Chorei todas as luas.
Desejava ser o inconstante vento,
para poder beijar a rosa dos teus lábios.
Chorei quando foste embora com o vento...

Sorocaba,15-01-1996,05:10hs

Elegia na morte do Pai de um Amigo

Meu Pai.
A tua morte veio te buscar
e chegou até mim,trágica.
Antropofágica.

Eu sou o teu filho
e o teu nome está em mim.
Eis o meu nome:
J.

E o teu corpo morto na minha cama
é o meu nome.

Eu sou
todos os teus sonhos
agora,
meu pai
morto.

Toda a vida que jamais viverás
assume cores e formas dentro
dos meus olhos.

E eu, meu Pai,
eu,o teu filho,
perpetuo-te
neste momento mortevida,
e assumo
o que jamais viveste
e jamais viverás.

Eu sou todos
os teus sonhos e desejos
agora,
Pai.

Em mim estás,
em meu sangue,
escorres em minhas lágrimas
e inundas o meu futuro.
Em mim estás
e tu me carregarás para sempre
dentro do teu
agora
coração invisível.

Meu Pai,
a tua morte inesperada me afoga,
faz nascer em mim o medo maior.

A tua morte
faz com que eu seja tu,
põe-me em tua cadeira
vazia.

E eu tenho medo,Pai.

Ensinas-me a ser homem,
o homem que tu foste.
Mostras-me o teu caminho reto
correto.

Meu Pai!
De extintas possibilidades infinitas!
E tudo o que eu posso ser é:
apenas agora.

Sim!Pai!Perpetuo-te!
Sim,eu,o teu filho,
continuo a tua vida
e o teu nome
em mim
com orgulho,
meu Pai morto!

Sorocaba,03-12-1997

Cadeira

Cadeira.
Imobilidade
da matéria
morta.
Esqueleto.
Objeto.
Com o objetivo
de suportar
o calor
da matéria
viva.
Cadeira.
Madeira morta.
Forma fria.
Estofo.
Borracha e espuma.
Plástico e metal.
Simples.
Muda.
Humilde.
Presente.
Escrava.
E é isso!
Ponto final!
É assim a maneira do homem
perceber a cadeira.
(Mas...
quando a Poesia
rasga
e ressuscita
em novas formas
as palavras
revelam-se
as essências
ocultas
infinitas
espíritos
verdadeiros
das coisas.)
Cadeira!
Mundo indecifrável!
Ser intangivel!
Teus padrões infindos,
espelhos,
espalham-se,
confundem-se
em formas
universais.
Tua alma é um horizonte
quente de conforto.
Discursos.
Decisões.
Revelações.
Habitat de insetos.
Na memória da tua matéria
ficam
os beijos
as lágrimas
as palavras
quando
estes
já não existem mais.
Cavalgas com tuas pernas
pelo mundo todo.
Soberana!
E possuis dignidade
até no teu abandono
enferrujada
carcomida.
Plena de momentos
e de almas.
E quando
todos os homens
estiverem mortos,
as cadeiras,
libertas,
sonharão.
Sorocaba,16-02-1997,02:15hs

Tempo

É preciso que o Tempo vaze
é preciso esquecer dele
para que ele nunca passe.

Quebramos todos os relógios
façamos do espelho um amigo.
Vivamos todos os momentos
e esqueçamos da morte o aviso.

Pois

É preciso que o Tempo vaze
é preciso esquecer dele
para que ele nunca passe.

Sorocaba,16-02-1997,03:00hs

Mesa

Será que aquela mesinha de madeira
(carne morta,envernizada)
possui uma alma?

"Revelação das Palavras"

"Todas as coisas têem as suas essências.
A Poesia está em tudo
e tudo tem uma alma.

As palavras existem
para dar forma à alma
oculta
de todos os seres.

Subentenda-se,subjacente,
todos os seres,
como tudo mesmo,
até
o menor grão
ou
a maior montanha.

Deus criou tudo
e em cada um
colocou um pouco
de Si mesmo.

Resta a nós abrirmos os olhos
para sentir,entender,tocar,
fazer parte deste Tudoamar."

Agora,
quando olho para a mesinha,
sinto uma ternura imensa.

Sorocaba,18-03-1997,06:30hs

O poeta canta para seu Amor

A minha carne queima ao sentir o seu olhar.
Dentro de mim uma tempestade
e no meu coração um fogo que jamais se apaga.
Furiosa,a sua sensualidade me arrebata
até o país sem fronteiras da paixão.
Paixão que escorre dos seus olhos,
que chove sobre mim,
assim eternamente sempre.
Sempre.
Para sempre o seu olhar
perdido dentro de mim,
perdidamente azul,
azul de um céu profundo
de um abril distante.
Constante...
No calor do seu beijo eu me perco.
Eu me perco.
Eu peco.
Eu peço
a Eternidade.
A Felicidade de sentir
abraçada em mim a sua Vida.
Sentir em mim
por um momento,
agora,
o seu olhar,
meu Amor.

Sorocaba,08-04-1997,17:00hs,Shopping Esplanada

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Soneto do Castelo na Lua

Construirei um castelo na Lua.
Guardarei lá em cima o teu amor.
Teu encanto eu canto e ao luar flutua
tão distante de tanta dor.

Cantarei tua pura poesia.
Amarei ainda com mais ardor
teu corpo,fogo e fantasia...
Tão próximo ao meu o teu calor!...

As mãos querem beijar a Lua.
A Lua e o Amor querem ser castelo
e os beijos querem ver-te nua.

Na cama os corpos,harmonia;
banhados pelo luar mais belo.
Na Lua, o castelo,sinfonia.

Sorocaba,14-04-1997,06:15hs

Sou...

Mas não...
Não sou águia que silência o meu canto
nas nuvens.

Eu sou é nuvens!
Nuvens de pura e
fria água.

Água que forma oceanos profundos
e que canta a vida
em ondas...

Ondas de força e espuma.
Espuma branca que acaricia
as praias.

As praias do mundo
todo.
Todo o meu Ser.

Sorocaba,20-04-1997,20:30hs

Começo

Meu amor!
Abrem-se as pétalas da flor!
E é apenas o começo ainda
do que já parecia terminado!

Há muito para acontecer...
Muita vida e muita morte...
Dias de sol e tempestades
que parecerão intermináveis.
Mas a flor não sabe que faz parte do Tudo.
E não sabe também o quão perto do Nada
está.

A flor apenas é.
Vive.

Abrem-se as pétalas da flor.
E o dia está apenas começando
meu amor!

Sorocaba,19-04-1997,20:00hs

Mar

Mar furiosamente azul,
pulsante,profundo...
Poderosamente vivo.
Mar extenso,
intensamente azul...
Céu na terra,
corpo único.

Mas as tuas ondas
acariciam as praias,
mar furioso.
Tua espuma
delicadamente branca
e frágil em minhas mãos...
Dissolve-se...

Sorocaba,08-05-1997,21:00hs

Reflexo Urbano

Chove....
Os olhares sobre a Cidade.
A Cidade refletida dentro dos olhos
escorre pelos rostos,em lágrimas de dor.

As almas chovem
alimentando as calçadas.
Devolvendo a cidade
para a Cidade.

E no final,
devorados somos
pela
Cidade.

Sorocaba,22-05-1997,22:30hs

Amanhecer com Espelho

Mais um dia nasce...

Os cantos dos galos e dos pássaros
preenchem o mundo e o azul surge,
timidamente,depois triunfante.

Hoje,
agora.
Eu estou vivo.

Contemplo minha imagem
refletida no espelho.

Amanhã mais um dia nascerá.

E o espelho estará refletindo
o vazio da minha ausência.
O meu não-ser.

Tudo e Nada tão sem
importância para o Tempo!
Fora do espelho, a vida e o mundo
continuarão sempre dentro
da sua ordem normal.

Sorocaba,22-04-1997,06:00hs

Pós Juízo Final

Silêncio!
Ainda há matas virgens!
Ainda há pássaros!

Silêncio!
Pode-se ouvir a morte fervilhando
dentro dos últimos homens!

Silêncio!
Todas as máquinas estão mortas,
paralisia metálica.

Silêncio!
Acabou-se o tempo dos homens!
Despertam as criaturas ocultas!

Silêncio!
Saturno caminha melancólico e nostálgico
entre os corpos mortos dos homens.

Silêncio!
Espaço entre dois tempos!
Imobilidade geral de tudo!

Silêncio!
Meia- noite universal!
Surrealismo da matéria sem o homem!

Silêncio
Remodelação das formas.
Das formas que buscam além!

Silêncio!
Transição...
Olvido...

O Desconhecido!
Enfim é libertada
a Poesia infinita de todas as coisas.

Sorocaba,17-01-1997,05:00hs

Segredo

Pássaro e Lua.

Um desejo adormecido
desde o príncipio de tudo
finalmente desperta.

Cruz viva.
Branco arco na cúpula azul.

É um segredo
inabitável
vertical
total.

É algo oculto
incompreensível para o homem.

Pássaro e Lua.

Sorocaba,24-12-1997,06:00
Sinfonias Concertantes de Mozart

Busca

Busco a Poesia do Absoluto.

Do Absoluto escondido
nos espelhos,
nas mulheres,
nos momentos
e em cada pequena coisa.

O Absoluto escondido
dentro de mim mesmo.

Sorocaba,20-03-1997,01:30hs

Criação

O Sopro sobre o barro.

A matéria adquire forma.
A forma é inundada de Vida
feita de sonhos,dores e amores.

Deus,
embevecido,
contempla
a mulher recém-criada.

O sol sobre o corpo.
Luz e Forma.
Calor.

A mulher
é o sonho masculino.

Sonho materializado.
Real.

Para que os dois sejam um.

Sorocaba,20-03-1997,22:00hs

Luta

Na minha luta contra o branco,
há uma dor quase invencível,
sensível em todos os meus poros,
que necessita ser destruída.

Mas isso é impossível.

A dor é necessária.
A dor faz correr rios de lágrimas e sangue.
Tinta mais pura.
E dissolve,desfaz,dissipa, derrota o branco.
A dor é necessária.
Diária.

O branco, inimigo da dor,
consequência do branco.
Círculo de exatidão perfeita
sobre o qual paira a alma do peta.

Na minha luta contra o branco.
Dor.
Necessária.
Lágrimas.
Tintas que dão vida ao branco.

Mongaguá,28-03-1997

Caminho

Concha.

Caminho vazio
para
o Infinito.

Pureza perfeita em minhas mãos.
Espiral sem fim.
Todo o oceano cabe em ti.

Concha.

Sorocaba,19-03-1997,21:00hs

Ser

Buscar
nas profundezas
o impossível.

Ideal.

Nadar
nas profundezas
inalcansáveis.

...

Abismos da alma
que vazam pelos olhos.

Que encontram outros olhos.
Outros abismos.

Ir além do corpo,
contudo jamais abandonando
a carne.

Ir sempre além.
Além da carne.
Além da alma.

Dissolução.

Serafim
Serafínico
Ser a fim
Ser o fim.

...

O meu Absoluto
é um vazio
confinado entre
quatro paredes.

Coração labiríntico.

Minha alma,
rio que sobe para o céu.

Meu coração,
leito seco.

Minha vida
não-rio
no oceano
do Tempo.

Sorocaba,18-03-1997,20:00hs

Aurora!

Aurora!
Incerta.
De luzes indefinidas
de formas imprevistas.
As tuas mãos,Aurora
ferem as nuvens e o céu
fazendo correr rios de sangue
que formam coágulos nos horizontes.

Aurora!
Dissolvedora de madrugadas!
Senhora das Esperanças!
Tua vida é curta.
Nasce com o canto dos galos
e morre quando o sol aparece.
Oh,Aurora!
Tu, que despertas
os telhados das casas!
E desvendas os segredos das ruas
quando vens
Aurora!

Sorocaba,16-02-1997,04:00hs

Noturno do Amor Verdadeiro

Meu Amor!
O Tempo esqueceu de nós!
Flores.
Mãos.
Que não haja a destilação do desejo!
Mas sejamos um só
totalmente cotidianos.
Normais.
Puros.
Que o nosso amor seja
esse mergulho profundíssimo
da alma no corpo.
Meu Amor atemporal!
Que o solo que tu pises seja sagrado,
contudo jamais deixando de ser solo.
Possua-me
deixando apenas a minha
Liberdade!
Eu sou o teu filho
que está dentro de mim.
Não sei o amanhã,
mas o meu hoje
é você.

Mulher!
Se o nosso amor for puro e simples,
brotarão sonhos dos nossos corações.
Acreditaremos.
Teremos fé.
Viveremos.
Enxergaremos sentido nas coisas.
Faremos tudo com delicadeza extrema.
Que nós sintamos a ternura do mundo
e amemos todas as coisas,
se o nosso amor for puro e simples,
meu Anjo de asas feitas de céu!

Sorocaba,14-02-1997,02:15hs

Espera

Quando eu te espero
e tu não vens,
sinto o desespero
das paredes brancas.
Sinto que o meu corpo fica
e o teu amor passa.
Multidões de contramortes
me esperam
pelos corredores.
Há postes que choram,
queimando todas as flores.
Quando tu não vens,
meu amor de naufrágio
e contracéus,
sinto
a carícia dos relógios
sobre o meu corpo.
A tua ausência
é uma rua escura
afogada nos latidos dos cães.
Quando eu te espero
e tu não vens,
o Vazio forma salões
de infinitos vazios
no meu coração.

Sorocaba,11-02-1997,23:00hs

Paz Eterna

Entre os sepulcros
silêncio.
Paz Eterna
das pedras
dos anjos brancos
que a chuva
faz chorar.
E o vento
entre os sepulcros
é o tempo
que passa
que desfaz
lembranças
suavemente.
Silêncio.
Há gatos
entre os sepulcros.
A chuva
apaga os nomes
limo.
O tempo
esquece as datas.
Lembranças
que se perdem
pelo ar.
Há ecos
de vozes distantes
que passam
os muros cinzas.
As lágrimas
chuva
lavam as pedras
imobilidade.
Imobilidade
das estátuas
de tudo
que se desfaz.
Decomposição
dos corpos imóveis
das nuvens.
O vento decompôe
as nuvens
em lágrimas.
Crepúsculo
que se repete
eternamente
nos olhos brancos
dos anjos.
Tranqüilidade
esmagadora.
Beleza
que dói.
De nunca mais.
E entre os sepulcros
há gatos.
Entre os sepulcros
silêncio.
Entre os sepulcros
paz
Paz Eterna.

Sorocaba,11-02-1997,22:30hs

Noturno Lunar

Lâminas de luas sem fim
cortam o meu coração.
A noite fecha os meus olhos.

Mão.
Sonho que jamais alcançarei.

Não.
Os teus lábios nunca beijarei.

Escravo eterno eu sou
das luas do teu rosto.

Das ruas
em que mergulho
escuro
no desgosto profundo
da solidão do mundo.

Quando o amanhecer acariciar a cidade,
apenas a pálida lâmina da Lua no céu,
branca,
solitária,
desejando o meu coração.

A branca Lua!

Sorocaba,06-02-1997,02:00hs

Madrugada

Madrugada absoluta
de tranqüila escuridão.
As luzes distantes dos postes
são desejos dos homens
de estrelas na Terra.
Ao longe,os fantasmas dos prédios,
que dormem nos horizontes.
Há uma calma em tudo
e o silêncio que de vez em quando
é profanado pelo ronco de algum motor.
Vazias ruas,casas quietas.
São quatro e meia da manhã.
Os cães latindo são a certeza de que
tudo está em ordem na Natureza das coisas.
Os cães que vieram de longe,
trazidos pelos ventos,
inundando tudo.
Despertam os primeiros galos.
Seus cantos,
profecias do dia que daqui a pouco virá,
espantam os maus espíritos.
E em tudo,
calma e suspense.
Já há a nostalgia antecipada na Lua,
e nas estrelas, gemidos de terra.
Expectativa da aurora que se aproxima.
Mas
ainda é madrugada.
Sobre o mundo.
Dentro de mim.
Madrugada.
Madrugada absoluta.

Sorocaba,18-01-1997,05:00hs

Faca

Coração de faca,
coração de faca.
Em ti, rasgo,veia,pranto.
Oh,coraçãozinho metálico,ínfimo!
Na tua prata,gritos,sangue,mãos.
Coração frio.
Sempre guiado pela mão do homem.
O Homem!
O deus da faca!
Oh,coração de faca!
Que corta sem querer,
que mata sem saber!

Sorocaba17-01-1997;05:15hs

Noturno- Volúpia

Mulher!
Furiosamente apaixonado
beijo todo o teu corpo.
Todos os teus lábios.
Em cada gemido que deixas escapar,
um segredo da carne tua é revelado.
Da carne nua.
Em cada toque,cada carícia,
nasce uma diferente flor.
Um mundo é criado.
Fantasia e suor.
Desejo do prazer absoluto.
E é na volúpia incontrolável
do teu corpo
que eu afundo
e descubro
a Vida.

Sorocaba,24-12-1997,05:30hs

Constatação

Eu sou o meu próprio tempo
e nada mais além disso,
pois tudo o que vem depois
é tão somente a minha morte.

Sorocaba,23.12.1997,05:00hs

Visão e sonho do Amor urbano

O teu corpo de brisas
em sangue puro
que penetra no concreto dos edifícios.
Rosa de pedra em meu coração.

Um lírio cresce em minha boca,
mas jamais será flor.
Arranquei-o quando duas mulheres.
Sonho.

Há pedras pelo céu.
As pedras pelo céu.
E no teu corpo
lágrimas,
chuva eterna.
E terna.

O meu coração
no alto de um edifício.
O meu coração sem sangue.

Pelas ruas a mulher passa.
E passa.
O teu corpo passa
e a minha alma fica.

Minhas mãos afogadas
em formigas negras.
Esterilidade de carícias.
Oceano de insetos.

Quando as aves movem o céu
e o sol arrebenta suas ondas
na luta contra as paredes brancas dos edificios,
há mortes entre as sombras quentes das calçadas.

Há uma ausência tremenda de coxas femininas,
e nos viadutos,
rios de ferro
gritam sua dor.

Mas quando eu sonho.
Lírio.
Rua.
Mulher.
E o amor brotará das calçadas,
derrubando os edifícios
e terá enfim o beijo do sol.

Sorocaba,17-01-1997,18:00, Bar do Zé(Correio)

Apocalípse Lunar

A Lua.
Sorriso branco de tristeza pura.

Um labirinto de sonhos
atravessa a minha alma
pedindo amor.
Martírio.
Jamais compreenderei o teu nome.
Tudo o que eu desejo é.
Sal.Fonte.Gema.Vênus.
Tudo o que eu desejo é
uma morte bem delicada,
com um belo corpo de mulher,
e a Lua estendida na minha cama,
com profundos olhos de abismos.

Mas,quando o abraço da Lua,
todas as rosas do mundo ressuscitarão
e as mulheres vão chorar madrugadas e solidões.

Quando o beijo da Lua,
todas as mulheres morrerão sós,
insepultas.
E depois.
E depois...
sobrarão as rosas.
Só as rosas.
E a Lua
com seu sorriso branco
e seus seios de tristeza pura.

...

Uma floresta de mãos cortadas.
Pedras.
Dois sonhos e um cão.

...

Beberá a mulher do sangue vivo
do coração dos séculos.
Beberá a mulher...

Oh Lua!
Quando eu disser baixinho o teu nome,
bem baixinho,só as comovidas rosas ouvirão.
Então.
Será.
Ruína.Fim do mundo.Juízo.
Silêncio.
Quando o teu nome.
Lua.

Mulher.
O fim virá a ti
com um espelho e um relógio.
Dissolvendo o olhar em chuva de aurora.
Lábios e seios devorados serão pelas formigas.
O fim virá a ti,
Mulher.

Oh,Lua!
Então seremos um.
Rainha.
Única amante.
Soluço de eternidade.

Lua!
Sorriso branco de tristeza pura.

Sorocaba,06-01-1997,02:30hs

Contrários

Menina linda!Tua beleza,alegria.
Dança de pura poesia.

Amor que finda!Tua tristeza,agonia.
Dor que rasga a fantasia.

Sorocaba,04-01-1997,04:30hs

Corte

Corto-me.
O sangue escorre
risco vermelho
e pinga
mancha
no chão
branquíssimo.

A dor me faz lembrar
o quão vivo estou.

Escorre o sangue.
Eis a Verdade:
Tudo é efêmero,
tudo acaba.

O sangue seca
e nada sobra.

A dor desaparece.
A vida continua...

Sorocaba,20-11-1997,03:30hs

Noturno-Momento

Sonho você em meu peito.
Beijada noturnamente
secreta estrela em meu céu de desejos.
Mas o momento é este:
Você.
Eternagora
com seus olhos entreabertos
e com o calor do seu corpo.
Suas mãos que.
Recriam o tempo em mim.
Sua boca entre a minha boca.
Ávida.
Estou realvivo
apenas neste momento:
Você,
Mulher,
Amor meu.

Sorocaba,20-11-1997,03:30hs

Embaixador

Embaixador.
Esse teu rosto de séculos
que mira horizontes de guerras
esquecidas.
Embaixador.
Para sempre imobilizado
na brancura fria do mármore.

Sorocaba,27-07-1997,01:50hs

Variações sobre "A Tempestade" de Renato Russo

Curvei-me diante de quem jamais mereceu o meu amor.
Mas a dor que eu sinto me ensinou a levantar os olhos
e mostrou toda a impureza que existe em ti.
Aprendo a não sentir mais amor.
Fecho as minhas mãos para a tua beleza.
Eu quero que o meu sofrimento sufoque o teu coração.
Quero ver o sangue manchar a brancura da tua pele.
Quero ver a vida escapar do teu corpo aos poucos.
Cortarei o teu rosto, meu amor,
para que sintas toda a dor
que o teu amor provoca em mim.
A força da minha fúria fará nascer a loucura no teu olhar.

Eu pedi apenas o teu amor,
mas tu tomaste a minha vida para ti,
não deixando nada para mim.

Agora eu sou a tua morte.
Sorocaba,15-09-1997,04:30hs

Noturno-Síncope

Era o teu corpo nu na minha cama .Adormecido.
Um Anjo.Um sonho. Mais que uma flor.
Era a escuridão que envolvia teu sono.
Ausência absoluta da Lua.
Era o teu abandono total da tua carne.
E o que eu sentia.
Era a tua respiração.
O teu calor.
Nossos corpos entrelaçados. Abraçados.
O teu coração batendo.
Tão próximo ao meu.
Era o teu seio delicadíssimo.
Rosa em minha mão.
E tudo mais que havia
era tão somente o silêncio.

Sorocaba,31-10-1997,04:00hs

Sem limites

Amei-a muito mais do que eu podia.
Sem limites.

Queimei-me no fogo da tua paixão.
Fui chama.

Quando despertei:
água.

Eis o que sou agora:
cinza.

Carvão já consumido.
Pó.

Fumaça última que o vento
desfaz
entre os dedos
do tempo.

Sorocaba,07-01-1997,05:00hs

A amante Lua

O mar beija a areia
e é o espelho da Lua
A Lua chora sobre o mar
e o mar não alcança a Lua.
O mar beija apenas a areia.

Oh,pobre e solitária e pálida Lua!
Oh,Lua branca abraçada pela negra solidão!
Quando eu for livre,
quando eu morrer,
oh,Luazinha!

Eu juro!
Subo até a janela do teu quarto,
beijo-te apaixonado
e contigo eu caso,
minha menininha de sonhos e poesia...

Lá em baixo,
o mar
morde a areia,
louco de ciúmes
e tempestades...

Sorocaba,02-01-1997,04:30HS

Tombeau para o professor de Geografia Eneo Garanhani

O seu corpo imovelmente imenso
na imensa imobilidade da sua cama.
Meu querido Professor!
Meu Mestre morto!
Pássaro liberto,
menino sem dor.
O seu rosto é o mapa do mundo num rosto
e a sua mão sobre a outra sua mão.
Imóveis!
Todo o seu corpo.
Os seus olhos fechados.
Seus lábios secos.
Seu silêncio absoluto.
Imóveis todos os relógios
e morto o tempo.
O corpo imóvel e imenso na cama
me destrói,
afunda-me em seu sepulcro ainda não aberto.
Rasgo-me com garras de dor e passado
inalcansável!
Tento lembrar dos dias felizes
mas nascem lágrimas.
A dor é profunda
como o túmulo.
A dor é imensa
como a cama
imóvel e imensa.
Como seu corpo
imóvel e imenso
e morto.

Sorocaba,02-01-1997,04:00hs

Crepúsculo

O dia se dilui
em luz que se esvai
em azul que se desfaz
em céu que se faz
negro.

Sorocaba,01-01-1997,18:30

Sarabande

...E cai a chuva mais mansa
dança mais pura
alcança meu coração
chão
sem mais esperança nenhuma
de uma paixão.

Sorocaba,14-10-1997

Assassinato de estrelas

Quando os galos acordam,
assustam a noite como seus cantos
de glória ao dia.

Quando a Aurora vem,
oh!destruição sem fim
de céu negro e de estrelas!
Os galos,com suas vozes de facas,
afugentam os maus espíritos.

Quando a Aurora vem:
Azul.Pássaros.Luz.
Eo Sol,com seu punhal furioso de fogo.
Assassinato de estrelas!

Aurora,quando me tocas
com teus frios lábios de luz,
oh,Aurora!
sinto piedade das estrelinhas!
Aurora!
Assassina de estrelas!

Sorocaba,04-01-1997,04:30hs

Olho da Alma

Quando afundo dentro de mim mesmo,
eis o que descubro:
abismos tremendos.

E enxergo a minha alma:
Coração,Cidade,Lua.

Sorocaba,06-08-1997,05:45hs

Beira Mar

Caminho pela beira-mar,lentamente.
Carrego nas mãos meu coração.
No coração levo um amor
que não tem mais razão de ser.
Dentro dos meus olhos
uma Lua onírica
domina a noite que me envolve.
Sob meus pés a areia molhada
e sobre meu corpo uma brisa fria
que acaricia a alma.
Ao longe as luzes da cidade,
tão distantes de tudo
e tudo o que ouço é
o mar escuro,tão próximo de mim.
Já não percebo horizontes,
tudo em sombras.
O estranho branco da espuma das ondas
tem um efeito de fantasmas.
Sim.Fantasmas.
Como os momentos que passaram.
Como os beijos que já não são mais.
Como o rosto e as palavras que tento inúltil esquecer.
Sinto-me pequeno,ínfimo.
Sobre mim o Céu.
Um vazio terrível até as estrelas.
Ao meu lado o oceano.
Imenso.Quasinfinito.
À minha frente um tapete de areia
contornando o mundo todo.
Não quero parar de caminhar.
Quero andar até o desconhecido.
Quero esquecer,deixar tudo para trás.
Quero ser brisa,
que passa e nada sente.

Sorocaba,07-07-1997

Espelho

Quando olho o espelho
vejo um desconhecido estranhamente
familiar que envelhece a cada dia que passa.

Quando mergulho no espelho.
Multiplico-me.
Desfaço-me
em outros ainda mais desconhecidos.

Quando eu e o espelho:
Um.
Folha em branco.
Pureza da primeira nãoidentidade.
Tranparência liqüida
do nada-tudo.

Quando eu e o espelho:
Possibilidade de ser todos
e ao mesmo tempo nenhum.

Sorocaba,20-03-1997,06:30hs

James Dean

A Angústia inexplicável
da tua face.

Caustrofóbica.

Sobre o teu rosto perfeito
o beijo da Morte.

Sorocaba,21-03-1997,22:00hs

Pequeno Noturno Íntimo

Sobre o meu corpo
um corpo de mulher
me abraçando forte,
desejando amor.

Tenho na alma
uma catedral
de silêncio e escuridão
inpenetráveis.

Abraço forte a mulher amada
e não sinto mais medo da
vastidão profunda da noite.

Sorocaba,27-07-1997,01:50hs

Sorocaba

Minha cidade
tão perfeitamente afogada
afundada
sob seu próprio lixo.

Cinzas prédios
ruas estreitas
e
a rígida forma concreta
dos seus habitantes
com seu sotaque de erres arrastados
e seus corações provincianos.

Pouca a educação
e
pequena a paixão.

Minha cidade
lentamente
desaba sobre si mesma.

Sorocaba,12-11-1997,02:00hs

Mito:Taurus

Eu Taurus
Devorador de virgens.

Não coração em meu peito
escuridão labirinto Minos
do terror do vazio do negror
meu olhar.

Eu Taurus
Primeiro ancestral Pai.

Milênios madrugadas séculos
espalhados ossos sem fim
em mim sangue feminino vida
eterna.

Eu Taurus.
Aprisionado símbolo masculino.

Todos os homens filhos meus inimigos
eu essência de todos guerreando contra mim
mas morrem sempre eu
vivo.

Eu Taurus.
Libertador dos instintos da carne.

Criador devastador do Amor
Pesadelo desejo sexual
das mulheres apaixonadas sacrificadas
em mim.

Eu Taurus
Mistério pulsante eterno.

Formas múscuços pelos
chifres dentes cascos
sengue fúria animal
Monstruoso.

EuTaurus.

Sorocaba,14-11-1997,03:00hs

Quadrinha

Muito enganado está o sonhador
à respeito do amor de verdade:
no peito ele é apenas um ator
feito de Dor,Carne e Realidade.

Sorocaba,22-10-1997,01:00hs

Dois paises:Realidade e Sonho

O peixe dentro d'água:
liqüido silêncio frio.

O peixe dentro d'alma:
negro pesadelo deformado.

O peixe exterior:
aceitável realidade comum.

O peixe interior:
aterrorizante criação do sono.

O peixe consciente
devorado pelo
Peixe Subconsciente.

Sorocaba,06-08-1997,06:00hs

Chuva

Se a chuva caísse
e não houvesse ninguém
para ver.

Ninguém no mundo
para sentir seu toque.
Que sentido teria a chuva?

Chuva.
Liberta de todas as palavras,
de todos os sentidos.

Chuva.
Simplesmente chuva.
Na sua essência mais pura.

Chuva.
Frias gotas de lágrimas
do infinito.

Sorocaba,04-11-1997,04:30hs

Don Juan

Da sonhadora sou o sonho mais profundo.
Sou a mais desconhecida razão
da mais selvagem flor feminina

É meu o calor do corpo teu.
Possuo-te.

Na noite mais escura esculpi a tua alma.
Criei o teu coração.
Concha e tempestade.

Tudo o que possuis é apenas o desejo
do beijo meu.

À minha carícia treme a tua carne.
Arde o teu seio
no anseio,no ensejo absoluto.

Da sonhadora sou o sonho.
Mais profundo,mais selvagem e primitivo.

Sorocaba,05-10-1997,03:00hs
Da

Anjos

Os anjos choram sobre nós
as suas catedrais de tristezas geladas.

Silenciosas.

As suas asas ferem delicadamente
a eternidade efêmera das nuvens
quase sem querer.
Sorocaba,25-07-1997,04:15hs

Formiga

Formiga.
Conceito materialmente vivo
do pequeno.

Tocante fragilidade
da Natureza.

Porém
quando muitas
quando juntas.
Exército
incansável.
Invencível.

Formiga!
Morro de inveja desse
puro
ínfimo
simples
que Deus criou
coraçãozinho teu!

Sorocaba,21-02-1997,09:35hs

Noturno da Solidão

Tenho em minhas mãos um céu sem pássaros.
Triste azul sem nuvens.
Triste.
Há em minhas mãos
um vazio de corpos pavoroso.

Silêncio da carne que sofre
a ausência de outra carne.
Sinto
o tempo penetrando meus olhos como um cão,
destilação sem fim da alma.

Os meus braços abraçam vazios insuportáveis.
O chão que eu piso,
pedra.
Meus pés,raízes secas sem terra.
Minhas mãos,pássaros sem céu.

No meu coração uma avenida larga,
nos meus olhos uma eterna noite,
negra,
devora-me,quebra meus ossos.
E jamais uma Lua,jamais uma Aurora.

Eu sinto os meus lábios secando
e vejo minhas mãos murchando.
Tempo:
apenas peço uma Aurora que desfaça o negro em rosa
e que ponha os pássaros no céu das minhas mãos.

Sorocaba,11-02-1997,05:00hs

Cidade

Cidade.
Linhas retas
concretas.
Concreto
contra
o céu.
Matéria recortando
nuvens e azul.
Tristeza que se eleva em cinzas,
massa sólida que busca alturas.
Agonia das antenas enferrujadas,
riscos no horizonte.
E as janelas,
espelhos frustrados
do sol horizontal.
Alturas,oh alturas de imobilidade!
Ansiedade inúltil do desejo
do beijo do céu.
As ruas,
rios de calor negro e borracha.
Óleo e sangue.
Rios de pedras.
Os postes,humildes,
em suas orações de luz,
esquecem sempre que os seus fios
são navalhas que rasgam,
abrem veias retas e negras,
ruas nas brancas nuvens.
Os fios dos postes,
unhadas do homem no céu.
Sol,
luta de sombras.
Chuva,
lixo pelas ruas.
Homem,
coisa sem sentido,
devorado pela Cidade.


Sorocaba,18-01-1997,05:00hs

Saturno

Quando Saturno caminhou
pelos grandes salões de baile,
todos os relógios do mundo pararam.

E o seu rosto devorador de homens
era uma eternidade de angústias,
um abismo de silêncios imensuráveis.

Quando Saturno amou,
todos os sinos repicaram solenes
e um perfume de rosas dançou pelo ar.

Quando Saturno adormeceu,
já havia vomitado todos os homens
e os salões de baile já estavam vazios.

Saturno adormecido em minha cama
é um sonho de álcool e poder.
Pesadelo do tempo infinito.


Sorocaba,13-01-1997,03:30 hs
Os Planetas(Saturno), de Gustav Host

A Mulher Absoluta

Deusa.
Senhora da Destruição.
Tu, que congelas meus olhos!
Dona do meu coração.
Estátua.
Monumento da Paixão.
Momento em que sacrifico
o que eu sou para ser teu.
Corpo.
Altar da minha expiação.
Tu,que desces do céu,fria
chuva que penetra em mim.
Mulher.
Feita de carne e oração.
A ti me entrego em silêncio,
mergulhado em devoção.
Deusa!
Senhora da Destruição!


Sorocaba,04-07-1997

Amar

Amar é aprisionar-se ao incerto.
É fazer da madrugada a mais íntima confidente,
e se consumir no desejo que nunca se realiza.

Amar é construir um mundo de sonhos.
É sentir na ausência da Amada o abismo,
e na presença Dela,arder em pura Luz.

Amar é se elevar em alturas desconhecidas.
É trazer à tona dos olhos os sentimentos mais ocultos,
e se alimentar tão somente de ilusões.

Amar é se desfazer,esquecer de si mesmo.
É possuir a dor nas palmas das mãos
e esconder nos lábios a salvação.

Amar,verbo inconjugável e sem tempo!
Amor,palavra indefinida,adormecida dentro de nós.
Sinônimo de todas as coisas!

Sorocaba,20-07-1997 ,05:30hs