terça-feira, 25 de novembro de 2008

Elegia na morte do Pai de um Amigo

Meu Pai.
A tua morte veio te buscar
e chegou até mim,trágica.
Antropofágica.

Eu sou o teu filho
e o teu nome está em mim.
Eis o meu nome:
J.

E o teu corpo morto na minha cama
é o meu nome.

Eu sou
todos os teus sonhos
agora,
meu pai
morto.

Toda a vida que jamais viverás
assume cores e formas dentro
dos meus olhos.

E eu, meu Pai,
eu,o teu filho,
perpetuo-te
neste momento mortevida,
e assumo
o que jamais viveste
e jamais viverás.

Eu sou todos
os teus sonhos e desejos
agora,
Pai.

Em mim estás,
em meu sangue,
escorres em minhas lágrimas
e inundas o meu futuro.
Em mim estás
e tu me carregarás para sempre
dentro do teu
agora
coração invisível.

Meu Pai,
a tua morte inesperada me afoga,
faz nascer em mim o medo maior.

A tua morte
faz com que eu seja tu,
põe-me em tua cadeira
vazia.

E eu tenho medo,Pai.

Ensinas-me a ser homem,
o homem que tu foste.
Mostras-me o teu caminho reto
correto.

Meu Pai!
De extintas possibilidades infinitas!
E tudo o que eu posso ser é:
apenas agora.

Sim!Pai!Perpetuo-te!
Sim,eu,o teu filho,
continuo a tua vida
e o teu nome
em mim
com orgulho,
meu Pai morto!

Sorocaba,03-12-1997

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